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Distribuidoras vivem fase de transformação

Por Camila Maia | De Fortaleza

Nelson Leite, da Abradee, resume a inovação no setor em três termos: descentralização, digitalização e descarbonização

O planejamento do segmento de distribuição de energia ao longo dos próximos anos está sendo pautado pelo desenvolvimento de tecnologias, como crescimento da geração distribuída, mobilidade elétrica, inserção de novas fontes e aumento do “empoderamento” do consumidor. O termo foi um dos mais citados nos primeiros três dias do Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica (Sendi), realizado pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e promovido pela Enel Ceará (ex- Coelce).
“O empoderamento do consumidor acontecerá não por ideologia, mas por uma questão tecnológica”, diz Ildo Grüdtner, secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia (MME).

A geração distribuída, por exemplo, já é realidade no setor, com crescimento exponencial nos últimos três anos e perspectivas de avanços ainda maiores. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), hoje, há cerca de 560 megawatts (MW) de potência instalada na modalidade, ante 260 MW ao fim de 2017.

“O que precisamos no futuro? Precisamos de aperfeiçoamento na regulação, antecipar ajustes regulatórios, novos procedimentos. Passaremos por processos adaptativos”, afirma Nelson Leite, presidente da Abradee.

Leite resume a inovação no setor de distribuição em três termos: descentralização, digitalização e descarbonização. No caso de descentralização, ele explica que a tendência é de retomada às origens, com aumento da geração distribuída e iniciativas relacionadas, agora viáveis em pequena escala por conta do desenvolvimento tecnológico.

No caso de digitalização, hoje, há equipamentos no mercado para modular a carga de acordo com a geração disponível, e não o contrário. “O consumidor poderá escolher deixar de consumir em um determinado momento a depender do preço”, explica.

A descarbonização é composta pela introdução gradual de veículos elétricos em substituição aos de combustão interna e também pelo crescimento das fontes renováveis não convencionais de geração de energia.

A digitalização das redes de distribuição de energia também impõe outros desafios, como a questão de segurança cibernética. Para Robert Denda, chefe de tecnologia em redes no braço da Enel de infraestrutura, é importante que os equipamentos tenham acesso seguro, com possibilidade de atualização e melhorias frequentes.

Todas essas mudanças geram necessidade de aprimoramento na regulamentação. Ao longo de 2019, uma das prioridades da Aneel é justamente aprimorar as regras em torno da geração distribuída. “A sustentabilidade e o equilíbrio do modelo de geração distribuída é o grande desafio para a regulação. Precisamos avaliar a correta maneira de se precificar o
uso do fio”, disse André Pepitone, diretor-geral da agência.

A mobilidade elétrica também é prioritária para a agência reguladora. As regras que permitem a cobrança da energia usada no abastecimento dos veículos elétricos já foram aprovadas, mas ainda é necessário avançar mais. Por isso, a Aneel abriu consulta pública para recolher subsídios para fazer a chama de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) estratégico sobre o tema.

Como parte da preparação para essas transformações, a Abradee anunciou um acordo de parceria estratégica com a Enel Foundation, que vai permitir a troca de informações e experiências entre as partes. O convênio de cooperação científica foi assinado pelo Instituto de Energia da associação, que é uma entidade sem fins lucrativos e que desenvolve estudos e pesquisas no setor elétrico.

Segundo Nelson Leite, com o acordo, a Abradee terá acesso a um banco de dados da Enel Foundation com informações da União Europeia, permitindo troca de informações em temas de interesse comum como digitalização da rede elétrica, introdução de fontes renováveis e mobilidade elétrica. A Abradee terá acesso ainda a treinamentos e cursos da União Europeia sobre esses temas.